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Eleições Gerais no Reino Unido


As eleições britânicas estão se aproximando, marcadas para o dia 8 de junho, e há muito para ser falado sobre esse assunto tão relevante. Será feita uma prévia para explicar a situação atual, passando de maneira breve pelo referendo que resultou no Brexit, além da convocação antecipada das eleições, que aconteceriam apenas no ano de 2020. Além disso, será explicado como funciona o sistema eleitoral do Reino Unido, como também será feita uma explicação sobre os principais partidos (incluindo os da Escócia, da Irlanda do Norte e do País de Gales), seus líderes e as principais propostas. Por fim, será mostrada a progressão dos votos e as possíveis consequências do resultado eleitoral (Conservadores e Trabalhistas).

Contexto

Em janeiro de 2013, pressionado pelo crescimento do euroceticismo dentro do Partido Conservador, o então primeiro-ministro David Cameron anunciou que realizaria um referendo sobre a continuidade da associação do Reino Unido com a União Europeia caso ganhasse as eleições gerais de 2015. Em seu discurso, enalteceu a história britânica de independência e de abertura a outros países, defendendo um futuro positivo para a União Europeia, com o Reino Unido participando de forma ativa. O primeiro-ministro garantiu que faria forte campanha a favor da permanência do país no bloco, argumentando que uma possível saída seria um “caminho sem retorno” (THE GUARDIAN, 2013)

Em novembro do mesmo ano, com a maioria do parlamento escocês pertencendo ao Partido Nacional Escocês, foram estabelecidas junto ao governo britânico as condições para a realização de um referendo sobre a independência da Escócia. As campanhas foram divididas entre duas organizações principais: o “Yes Scotland” advogava a favor da independência, enquanto o “Better Together” defendia a continuidade da relação com o Reino Unido. Apesar de algumas pesquisas iniciais indicarem a predominância daqueles que desejavam o rompimento da união com os britânicos, a questão “Should Scotland be an independent country?”, feita no referendo, corroborou o desejo da população escocesa de manter-se como parte do Reino Unido. No dia 18 de setembro de 2014, o “Não” prevaleceu com 55,3% dos votos totais, contra 44,7% dos que votaram “Sim” (UK GOV, 2014)

Com o predomínio do Partido Conservador nas urnas, o referendo foi confirmado no discurso de reeleição de David Cameron e oficializado pelo parlamento britânico através do European Union Referendum Act de 2015. A campanha pelo Brexit foi organizada por dois grupos fundados por membros do UKIP, o “Leave.EU” e o “Vote Leave”. Apesar de compartilharem o desejo de saída do bloco econômico europeu, os grupos frequentemente disputaram o protagonismo, de forma que o primeiro construiu seus argumentos majoritariamente em torno do tema da imigração, enquanto que o segundo focou sobre os aspectos econômicos do processo, com um projeto mais ligado ao Conservative Party.

A falta de coordenação entre as campanhas dos dois grupos contribuiu para o crescimento de declarações contraditórias ao longo das campanhas, com um dos principais exemplos sendo a declaração feita pelo Vote Leave de que a União Europeia custaria ao Reino Unido 350 milhões de libras por semana, com um total de 20 bilhões de libras ao ano. Da mesma forma, a falta de sincronia entre o Leave.EU e o Vote Leave levou a divisões internas dentro das próprias organizações, que culminaram na criação de um terceiro grupo, o “Grassroot Out”. (THE TELEGRAPH, 2016)

No dia 23 de junho de 2016, os britânicos votaram no referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia. Com uma taxa de participação da população em torno de 71,8%, o voto pela saída do bloco prevaleceu com 51,9%, contra 48,1% dos votos a favor da permanência. Enquanto a Inglaterra e o País de Gales votaram pelo Brexit, na Escócia e na Irlanda do Norte prevaleceu o desejo de continuar na União Europeia. Em Gibraltar, território britânico ultramarino, a população expressou em massa a vontade de se manter associada ao bloco, com os votos pela permanência atingindo o total de 95,9% (THE TELEGRAPH, 2016)

O voto final pela saída da União Europeia foi recebido com misto de receio e de otimismo. No dia seguinte à divulgação do resultado, David Cameron anunciou que renunciaria ao cargo de primeiro-ministro, agradecendo em sua fala a todos que apoiaram sua campanha e defendendo o desejo da população britânica como uma instrução a ser seguida. Dessa forma, o então líder do Partido Conservador avaliou sua renúncia como uma garantia de que o processo de negociação com a União Europeia teria uma nova liderança “forte, determinada e comprometida”. Por sua vez, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e apoiador da campanha do Vote Leave, argumentou que a escolha pela saída seria fruto das noções de que a democracia britânica estaria enfraquecida pelo sistema legislativo do bloco europeu e de que os britânicos deveriam voltar a poder escolher seus governantes.

Marcado pela retirada das candidaturas de seus opositores, Theresa May assumiu em julho de 2016 o cargo de primeira-ministra e de liderança do Partido Conservador. Apesar de ter advogado pela permanência do Reino Unido na União Europeia no referendo, adotou uma postura firme em relação ao resultado. May afirmou que corroboraria a vontade dos britânicos ao prosseguir com as negociações e declarou que “Brexit significa Brexit”, colocando David Davis à frente das conversas com a União Europeia como Secretário de Estado para a saída do Reino Unido da União Europeia. O processo formal do Brexit, por decisão da Suprema Corte Britânica, só teve início em março de 2017, quando o parlamento britânico aprovou o projeto de lei para invocar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que possibilitaria o início das negociações entre as partes. Autorizada pela rainha Elizabeth II, May ativa o artigo no dia 29 de março enviar uma carta a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, notificando a intenção do Reino Unido de deixar o bloco e dando início ao processo que deve durar até abril de 2019.

Mesmo tendo divulgado que seguiria no cargo, Theresa May anunciou em abril que anteciparia as eleições gerais para dia oito de junho de 2017, programadas inicialmente para 2020. May argumentou que necessitava fortalecer seu poder de barganha com os líderes europeus, temendo que as pressões dos partidos de oposição no Reino Unido gerassem uma imagem de divisão e instabilidade em seu governo (BBC, 2017)

Sistema Eleitoral

O Reino Unido possui um sistema político parlamentar em que todos os membros da câmara inferior do parlamento, a “House of Commons”, representam uma certa localidade. Há um total de 650 assentos na House of Commons, que são sempre ocupados por representantes eleitos em seus distritos locais (“constituencies”) num sistema de maioria simples. A rainha não pode votar em distrito algum, sendo até proibida de entrar na House of Commons. A câmara alta do Parlamento do Reino Unido é a “House of Lords”, a qual não possui número fixo de membros e tem poderes limitados, devendo avaliar as propostas de lei vindas da House of Commons, mas não podendo fazer mais que pedir que sejam revistas. A câmara alta do parlamento britânico não é eleita, mas indicada (por membros da House of Lords ou pela House of Commons) e aceita pela rainha, constituindo um cargo vitalício.

Como cada “member of parliament” (MP) é eleito dentro de seu distrito eleitoral, nem sempre um maior número de votos garante um maior número de representantes de um certo partido no parlamento. Isso se deve ao fato de que em alguns distritos, um partido pode obter uma vantagem eleitoral de 100 ou de 1000 votos que o resultado será o mesmo: apenas o representante escolhido pelo distrito será eleito, sem redistribuição dos votos “extras”, como ocorre atualmente no Brasil. Um exemplo disso ocorreu nas eleições de 2015, em que pesquisas de opinião apontavam para um empate ou pequenas vantagens no número de MP's para um ou outro partido, mas na verdade os Tories ganharam com 7% de vantagem sobre o número de MP's do Partido Trabalhista. Além das hipóteses de erro na forma como as pesquisas eram feitas, uma explicação também afirmava que o Labour mantinha largas vantagens em distritos que sempre votam a favor do partido, enquanto que os Tories fizeram ganhos principalmente em distritos contestados.

O partido com maior número de MP's é geralmente aquele que escolhe o primeiro-ministro e os governos de coalizão são raros no Reino Unido. De acordo com essa “regra não-escrita”, os gabinetes (equivalentes aos ministérios) também são geralmente compostos por um único partido, que é geralmente aquele que obtém maioria na House of Commons.

As diversas nações do Reino Unido possuem representação própria no parlamento, com um número definido previamente de representantes. Isso ocorre devido ao sistema eleitoral, organizado por distritos (“constituencies”), cada membro do parlamento representa diretamente o distrito onde foi eleito. Assim, a Irlanda do Norte tem 18 assentos, o País de Gales tem 40, a Escócia tem 59 e a Inglaterra possui 533.

Essa estrutura eleitoral focada nas “constituencies” permite que partidos locais das nações do Reino Unido sejam representados no parlamento, principalmente na House of Commons, e mais eventualmente, na House of Lords.

Partidos políticos e lideranças

- Partido Conservador (Conservative Party)

O Partido Conservador e Unionista do Reino Unido (“Conservative and Unionist Party”) é considerado o maior partido da ala direita no país, o qual também é comumente conhecido e referido como “Tories”, uma vez que nasceu a partir de membros do “Tory Party”, dissolvido em 1834. Desde as eleições gerais de 2015, o partido conta com a maioria no parlamento britânico, além de possuir o maior número de afiliados. Ademais, os conservadores ainda possuem 20 representantes, empatados como segunda maior representação britânica na instituição europeia.

A história do Conservative Party, assim como é demonstrada pela liderança nas pesquisas de intenções de votos atuais, denota uma predominância no cargo de primeiro-ministro que, durante o século passado, esteve à frente da posição por 57 anos. Dentre seus principais líderes, Winston Churchill protagonizou o governo de coalizão formado durante a Segunda Guerra Mundial, mantendo também o cargo de ministro da defesa. Após uma derrota para o trabalhista Clement Attlee nas eleições de 1945, Churchill retorna ao governo em 1951. Diferentemente de seu primeiro mandato, o contexto internacional afetou recorrentemente suas políticas domésticas, notadamente o fim do racionamento, com a intensificação da Guerra da Coreia e o Golpe de Estado no Irã de 1953. Sob a liderança de Edward Heath, o Reino Unido deu início às negociações de adesão à Comunidade Econômica Europeia, organização precursora da atual União Europeia. Apesar disso, seu governo ficou marcado pelo episódio de violência na Irlanda do Norte, conhecido como “Bloody Sunday”, no qual soldados britânicos atiraram em 28 civis durante um protesto, deixando 14 mortos. Com Margaret Thatcher, primeira mulher a assumir o cargo de primeiro-ministro no Reino Unido, o governo britânico extinguiu o consenso do pós-guerra, de um Estado diretamente envolvido e participativo em questões econômicas e sociais. Nesse sentido, Thatcher promoveu a privatização de diversas indústrias até então estatais, juntamente com o enfraquecimento dos poderes dos sindicatos. A primeira-ministra apostou seu sucesso na disputa contra a Argentina sobre reinvindicação das Ilhas Malvinas, denominadas no Reino Unido de Falklands. Esse período de liberalização econômica ficou conhecido como o período do Thatcherismo, devido às privatizações e à redução do papel do Estado na economia durante o governo Thatcher.

Nas últimas eleições, Boris Johnson era esperado como candidato e a expectativa era de que tivesse apoio de Michael Gove, com quem havia trabalhado na campanha pelo Brexit, e também de Andrea Leadsom. No entanto, pouco após pesquisas de opinião mostrarem que May possuía uma vantagem, Gove declarou que Johnson não era um líder apropriado para o trabalho e que lançaria sua própria candidatura. Logo após essa declaração de Gove, Boris Johnson deixou a corrida eleitoral dentro do partido, efetivamente retirando o maior nome da campanha do "Leave" da corrida eleitoral. Dessa maneira, foi aberto o caminho para que Theresa May fosse eleita com 50,2% dos votos válidos na primeira eleição, ampliando sua vantagem em duas votações até que os outros candidatos retiraram suas candidaturas. O próprio Michael Gove ficou apenas em um distante terceiro lugar na eleição geral do partido, ficando atrás de Leadsom.

A candidata tinha um discurso de unificação do partido e um projeto de tornar o partido uma força razoavelmente coesa afim de conseguir negociar o Brexit numa posição de maior poder. Na própria composição ministerial ela já iniciou o trabalho de unificar o Conservative, nomeando o próprio Boris Johnson como Secretário de Estado para Saída da União Europeia, um ministério recém-criado para negociar a saída do Reino Unido da U.E. de maneira aceitável para ambas as partes, além de substituir outros seis dos ministros apontados por Cameron numa tentativa de unir o partido que, para alguns, também pode ser entendida como uma “guinada à direita”. Dessa maneira, ela conseguiu unificar a maior porção de seu partido através de uma coalizão que abrangeu a maior parte do partido, o que o levou a se tornar a principal força da eleição previamente convocada para este ano.

Com ideais tangendo o liberalismo econômico e o conservadorismo, o manifesto divulgado pelo partido para as eleições gerais remonta ao euroceticismo fomentado durante o referendo de 2016, com a mensagem principal de prover “uma liderança forte e estável durante o Brexit e além”. Nesse sentido, a proposta conservadora segue a noção de que “nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim para o Reino Unido”. Entretanto, ainda que promova a saída do mercado comum e da união aduaneira, o programa propõe o estabelecimento de uma relação “profunda e especial” com os membros restantes, assegurando os direitos de cidadãos europeus residindo e trabalhando no Reino Unido e de britânicos na Europa.

No tema da imigração, o argumento conservador consiste na redução das redes de migração no Reino Unido para níveis “sustentáveis”, mantendo estudantes estrangeiros residindo no país nas estatísticas de imigração e buscando uma redução nos pedidos de asilos, além de aumentar os impostos pagos por empresas que empregam imigrantes que não advêm da União Europeia. No âmbito econômico, a proposta é de continuidade com a restauração das finanças públicas e de um orçamento balanceado, incluindo um aumento dos gastos com o Serviço Nacional de Saúde (NHS) em oito bilhões de libras por ano e de quatro bilhões com escolas até 2022. O âmbito social do programa teve grande repercussão na mídia recentemente com a divulgação de uma mudança no manifesto sobre assistência social. Inicialmente, foi proposto um aumento no número de idosos que deveriam contribuir para a manutenção de sua assistência, que ficou conhecida como “dementia tax”, uma vez que quem sofre de demência morando em casa teria que pagar, enquanto pessoas com câncer em hospitais não seriam incluídos. Com a mudança anunciada por Theresa May, seria imposto um limite no quanto cada contribuinte deve pagar. Outra medida considerada polêmica nessa área foi a troca dos almoços grátis para crianças nos três primeiros anos para cafés da manhã grátis em todos os anos da escola primária.

- Partido Trabalhista (Labour Party

Sendo um dos principais partidos nas eleições desse ano, o Labour Party é a terceira maior legenda no parlamento escocês e, além de contar com a maioria na Assembleia Nacional do País de Gales, possui 20 representantes no Parlamento Europeu. A história partidária do Labour, fundado há 117 anos, é intimamente ligada ao Conservative Party, desbancando o Liberal Party e assumindo na década de 1920 a função de principal oposição aos conservadores. O Labour ganhou grande destaque nas eleições gerais de 1945, após retirar-se do governo de coalizão formado durante a Segunda Guerra, quando o líder do partido, Clement Attlee, prevaleceu sobre os conservadores, liderados por Winston Churchill. Dentre as principais medidas adotadas em seu governo, Attlee introduziu um plano de nacionalização do Banco da Inglaterra (BoE) e criou o Serviço Nacional de Saúde (NHS), além de se juntar à China e aos Estados Unidos na Guerra da Coreia. O último período no qual o Partido Trabalhista ocupou o cargo de primeiro-ministro foi de 1997 a 2010, com Tony Blair e Gordon Brown. O governo de Blair, em particular, esteve envolvidos em diversos casos considerados polêmicos, como ao participar dos bombardeios da OTAN no Kosovo e da Invasão do Iraque em 2003.

O referendo de 2016 teve impacto direto no partido quando, faltando uma semana para a votação, Jo Cox, MP pelo Labour e apoiadora da permanência do Reino Unido na União Europeia, foi assassinada por um extremista, que gritou “Britain first” ao realizar o ataque. O referendo também abalou as estruturas do Labour, que havia passado por uma eleição de liderança em 2015 na qual certas rusgas foram deixadas por conta de mudanças no sistema eleitoral partidário, que passou a dar direito de voto a apoiadores do partido que pagassem uma taxa de 3 libras. Jeremy Corbyn, uma figura popular e que propunha uma visão mais à esquerda no espectro político do que o Labour tinha desde o período de Tony Blair, venceu esta eleição com uma votação expressiva de 59%. Esta margem de vitória era inclusive maior do que a alcançada por Blair em 1994, dando bastante segurança ao novo líder para avançar e implementar sua visão política. Além disso, a eleição de Corbyn para a liderança do partido propiciou um crescimento rápido do número de filiados, que foi possibilitado pela redução da taxa de entrada no partido e ainda pela própria popularidade de sua figura entre certos setores da esquerda britânica que não apoiavam as políticas do “new Labour” de Tony Blair e também com os mais jovens. No entanto, apesar dessa grande margem de apoio, os parlamentares do partido foram contra o novo líder.

Por isso, a eleição convocada por Theresa May pode ter uma utilidade para o Labour ainda que o partido perca na maioria: substituir os MP’s que não aceitam a liderança de Jeremy Corbyn e tornar o partido mais unido no parlamento. Além disso, a luta interna tem sido deixada de lado principalmente desde que as eleições gerais foram convocadas, com a máquina eleitoral do partido se voltando para atacar os Tories, o que mostra um certo grau de unidade do partido até então claramente rachado. Nessas eleições, o Labour tem chamado atenção de muitos por ter avançado consistentemente nas pesquisas de opinião, enquanto o Conservative tem caído, ainda que pouco.

No manifesto do Partido Trabalhista, uma das principais propostas é o aumento de impostos sobre a rendas daqueles que ganham mais de 80 mil libras, aumentando também a os impostos sobre as corporações em 26%, o que arrecadaria, segundo o partido, um total de 19.4 bilhões de libras. Na questão de direitos trabalhistas, promovem a criação do Ministério do Trabalho, o banimento de estágios não-remunerados e a proibição dos contratos de zero horas. Diferentemente do programa dos conservadores, os trabalhistas não estipularam nenhuma redução nos números de imigração e não propõem incluir estudantes estrangeiros nesses números, promovendo ainda a criação de um “Fundo de Impacto da Migração” direcionado às comunidades que acolhem imigrantes, que seria financiado por taxas impostas à emissão de vistos e contribuições de indivíduos com vistos de residência que possuem renda alta.

Em relação ao Brexit, a proposta de Corbyn aceita a legitimidade do resultado do referendo, procurando então construir uma relação de parceria com os países membros da União Europeia, dando continuidade aos benefícios do mercado comum e da união aduaneira e sem a opção trazida pelos conservadores de sair sem um acordo. O programa ainda defende que os direitos dos europeus morando e trabalhando no Reino Unido seriam imediatamente garantidos e asseguraria um benefício recíproco em relação aos britânicos vivendo em outros países na Europa. Na área de educação, o Labour argumenta pela abolição de mensalidades no ensino superior e a reintrodução de bolsas de manutenção para estudantes universitários de baixa renda. A proposta do partido para a saúde consiste no aumento em 30 bilhões de libras nos gastos com o NHS, que seriam financiados pelo aumento nos impostos sobre as rendas do 5% mais ricos no Reino Unido e sobre planos de saúde privado. Ademais, o manifesto estimula um movimento em direção à geração de um Serviço Nacional de Assistência Social, com um investimento que totalizaria oito bilhões de libras ao final do governo.

- Liberal Democrats

Se comparado aos dois principais partidos do país, trabalhistas e conservadores, é um partido recente, sendo fundando em 1988 por remanescentes do Partido Liberal, que vinha desde antes da Primeira Guerra Mundial. Seus outros membros eram advindos do Partido Social-Democrata e de dissidentes dos Trabalhistas e dos Conservadores, procurando um meio termo, lutando contra o bipartidarismo que é tão marcante no Reino Unido. Atualmente é a principal voz em defesa da realização de um segundo referendo para a saída ou manutenção do Reino Unido na U.E., sendo a principal promessa do seu líder Tim Farron. Apesar de ser um partido com uma visão liberal clássica na economia, com o posicionamento da redução de impostos para melhorar a produtividade e o poder de compra, ainda mantém uma visão compartilhada com o Labour de proteção da seguridade social em alguns aspectos, como o financiamento do NHS. Outras propostas relevantes e que devem ser lembradas são a postura menos intervencionista no cenário internacional, optando pela cooperação e pela negociação, mantendo o gasto de 0,7% do PIB em ajuda internacional, além de cortar as vendas de armas para a Arábia Saudita. Também visa reformas políticas, como dar o direito de voto para jovens de 16 e 17 anos, além de ceder mais poder para Escócia, Gales e Irlanda do Norte.

Na questão de investimentos, o partido se propõe a realizar investimentos diretos de capital na economia para fornecer ajuda inicialmente, além de aumento para sete bilhões de libras investidas na educação dos jovens, aumento programas de incentivo aos estudos para crianças que possuem desvantagens iniciais, como condições familiares ou outras. No âmbito familiar, garante a construção de 300 mil novas moradias até 2022, algo que é um problema grave no Reino Unido atual. Além disso, na questão ambiental, pretende aumentar o uso de energia renovável e diminuir o número de mortes decorrentes da poluição industrial.

- Partido de Independência do Reino Unido (United Kingdom Independency Party)

Fundado em 1993 para advogar a favor da saída do Reino Unido da União Europeia, é considerado um partido eurocético de direita. Desde o referendo realizado em junho de 2016, as negociações do Brexit tornaram-se o foco primário do partido, liderado por Paul Nuttall e contando com o apoio de Nigel Farage, um dos membros fundadores e líder da legenda de 2010 a 2016. Por conta disso, as reivindicações do partido nessas eleições consistem em ideais anti-imigração e conservadores, com a conclusão do processo de Brexit até 2019 sem pagar nada à União Europeia e o corte quase que pela metade dos níveis de imigração em até cinco anos. Apesar do euroceticismo e de uma taxa baixa de participação, atualmente o UKIP possui 20 representantes no Parlamento Europeu.

- Partido Democrático Unionista (Democratic Unionist Party)

​​ O Democratic Unionist Party, maior partido da Irlanda do Norte e quinto maior da House of Commons, é um partido que se identifica como de centro-direita. O partido, por ser associado historicamente com as igrejas protestantes, é apoiador do nacionalismo britânico e favorável à manutenção da Irlanda do Norte no Reino Unido. Apesar de ser estreitamente ligado às igrejas protestantes da Irlanda do Norte, tem se aproximado também da população católica da região, sobretudo desde 2008. Essa aproximação se deve à postura conservadora e contrária do partido acerca de assuntos como aborto e casamento homossexual (Newsletter), que se difere da postura adotada pelo Sinn Féin, partido que se identifica com o nacionalismo irlandês e católico, mas que, por estar mais à esquerda no espectro político, apoia o aborto em certos casos (estupro, gravidez de alto risco, etc) e também assume postura favorável à regularização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

- Sinn Féin

O outro partido importante vindo de uma das nações com menor número de distritos do Reino Unido é o Sinn Féin, um dos poucos partidos políticos no mundo que atuam em dois países diferentes: Irlanda e Reino Unido, mais especificamente na Irlanda do Norte. O Sinn Féin é um partido nacionalista católico que tende mais à esquerda, sendo o segundo maior partido da Irlanda do Norte e terceiro maior da Irlanda em termos de representação parlamentar. Na House of Commons, o Sinn Féin adota a posição abstencionista, que consiste em participar das eleições, ganhar assentos no parlamento, mas se abster em todas as votações. Curiosamente, o partido não está registrado na Irlanda do Norte, mas seus candidatos participam das eleições como independentes. O partido também é conhecido por ser acusado de ter ligações diretas com o IRA, com fontes afirmando que o partido e sua liderança são inseparáveis (The Telegraph).

- Plaid Cymru - Partido de Gales

Formado em 1925, é um partido do País de Gales que se autodenomina de esquerda, liderado desde 2012 por Leanne Wood. Assim como o Partido Nacional Escocês (SNP), tem como diretriz principal a formação de um Estado independente. No manifesto lançado para as eleições desse ano, alguns dos principais pontos focam em um acordo final do Brexit que seja favorável ao País de Gales, com a garantia dos direitos dos cidadãos europeus que moram e trabalham no país. Ademais, todos os futuros tratados comerciais assinados pelo Reino Unido devem ser aprovados pela Assembleia Nacional Galesa, além de dar direito de voto para jovens de 16 e 17 anos, a proteção e cumprimento das promessas feitas em relação ao NHS, além de novos investimentos em infraestrutura de transporte. Também se propõem a manter os direitos e seguranças nos direitos de aposentadoria e mudanças no sistema carcerário. Na questão externa, esse partido seria contrário ao envio de tropas galesas ao exterior para intervenções, apoia o fim dos gastos com as armas nucleares, porém com o apoio à provisão de condições para as tropas já existentes e destacadas.

- Partido Verde da Inglaterra e do País de Gales (Green Party of England and Wales)

O Green Party of England and Wales, ou apenas Green Party, teve suas origens na década de 1970, defendendo principalmente as causas ambientais. Posteriormente, o partido expandiu seus pleitos ao adotar uma agenda mais à esquerda, apresentando-se como uma alternativa ecossocialista ao Labour Party. Apesar de ter a liderança compartilhada entre Caroline Lucas e Jonathan Bartley, as demandas do partido convergem no manifesto lançado recentemente, o qual propõe a realização de um novo referendo sobre os termos do Brexit, incluindo a opção de permanecer na União Europeia e a criação de uma nova Lei de Proteção Ambiental. Outros pontos incluem: o estabelecimento do ensino superior gratuito e a criação de uma renda básica universal.

- Partido Nacional Escocês (Scottish Natinal Party)

O maior dos partidos de base eleitoral nacional é o Scottish National Party, o partido mais popular da Escócia, possuindo 54 dos 59 distritos, o que coloca o SNP como terceiro maior partido do Reino Unido. O partido se autodefine como social-democrata e pró-independência escocesa, tendo sido um dos principais apoiadores do referendo de 2014, realizando uma forte campanha a favor da independência. Nessa eleição, busca manter seu domínio sobre a Escócia a fim de conseguir uma posição mais sólida para influenciar a negociação do acordo do Brexit nas próximas semanas de maneira a favorecer os seus distritos.

Projeções e possíveis resultados

Desde a convocação das eleições por Theresa May, no dia 18 de abril, os Tories vêm liderando todas as pesquisas em nível nacional. Contudo, a diferença que já foi de 24%, agora está em apenas um dígito segundo algumas pesquisas. O instituto de pesquisas que mostra a menor diferença é na pesquisa da YouGov, chegando a patamares muito baixos como 3% ou 4%, realizadas entre 26 de maio e primeiro de junho. O gráfico abaixo representa esse crescimento do Labour e a redução da vantagem do Conservative.

(todas as pesquisas utilizadas tinham mais de 1000 entrevistados)

Esse processo pode ser entendido por diversas perspectivas. A primeira delas seria que a vantagem inicial era algo acima do normal e só precisaria de algum tempo para que houvesse um reequilíbrio entre os dois principais partidos. A segunda visão é de que o UKIP já cumpriu sua função de tirar o Reino Unido da U.E. e com isso muitos dos seus eleitores voltaram a votar nos Tories. Outra possível perspectiva foi o lançamento dos manifestos tanto do Labour quanto dos conservadores, sendo que o primeiro foi bem visto pela população em geral, especialmente pela promessa do ensino gratuito universal e da proteção das aposentadorias e do serviço nacional de saúde. Por outro lado, o manifesto do partido de May chamou mais atenção por pontos negativos, como a “dementia tax”, onde cidadãos idosos com determinada renda iriam ter que começar a pagar por suas moradias, além de mais cortes na área de educação e redução da seguridade social, afetando muitos deficientes

.

Um outro fator relevante é a postura da própria candidata conservadora, que manteve o discurso de "strong and stable leadership" durante boa parte de sua campanha. De fato, essa postura fazia sentido pela vantagem que ela possuía e pelo fato dos trabalhistas não conseguirem se alinhar definitivamente com o líder de seu partido. Contudo, essa maré vem mudando pois tanto o Labour começou a perceber que deveria se unir no apoio a Corbyn, mesmo que ele possua seus defeitos, e voltar as suas tradições com propostas mais à esquerda, vistas até mesmo como socialistas em alguns casos, como a nacionalização da companhia de trens e o correio, privatizados durante o governo Cameron. Pelo lado de May, sua postura de apenas esperar está se mostrando ineficaz, com críticas começando a surgir do próprio partido. Agora sua principal aposta é na defesa de que buscará o melhor acordo possível para o Brexit, porém com a permanência da ideia de que nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim para o Reino Unido.

O resultado que se mostra mais provável é uma vitória dos Tories. Contudo, algo que iria contra todas as previsões é a possibilidade de que eles não obterão uma maioria no parlamento, sendo necessária alguma forma de coalizão na construção de um novo governo, sendo que essa coalizão se mostra bastante dificultada por conta da baixa intenção de voto conferida ao UKIP, partido mais próximo ao Conservative, e da posição contrária dos outros partidos de negociar com eles. Apesar disso, ainda há a possibilidade de haver uma maioria parlamentar, mas está cada vez mais improvável. Outro ponto que deve ser destacado é que os partidos tidos como "progressistas" admitem a possibilidade de instruir seus eleitores a votarem pelo candidato que pode rivalizar com o candidato conservador, o que causaria mais um problema para May.

Independentemente do resultado que for consolidado no dia 8, as eleições já se mostraram mais interessantes do que pareciam quando foram convocadas, muito pelo fato dos dois principais partidos polarizem muito os votos, algo que não acontecia desde 1970, quando ambos conseguiram porcentagens de voto acima dos 40%, uma possibilidade que vem se mostrando cada vez mais viável.

Referências

https://www.greenparty.org.uk/

http://www.bbc.com/news/av/uk-wales-politics-39953861/general-election-plaid-cymru-manifesto-s-main-points

http://www2.partyof.wales/easyread17

https://www.theguardian.com/uk-news

https://www.snp.org/manifesto

http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/northernireland/12149147/As-murder-returns-to-Ireland-so-does-the-Sinn-Fein-nightmare.html

http://www.ukip.org/manifestos

http://www.newsletter.co.uk/news/some-ni-catholics-questioning-their-nationalism-and-considering-dup-1-6638540

https://uup.org/our-vision/ulster-unionist-party-manifestos

http://www.sdlp.ie/issues/manifesto-2017/

http://www.mydup.com/publications

https://www.theguardian.com/politics/2013/jan/23/david-cameron-eu-speech-referendum

http://www.telegraph.co.uk/news/0/eu-referendum-claims-won-brexit-fact-checked/

https://www.gov.uk/government/topical-events/scottish-independence-referendum/about

http://www.telegraph.co.uk/news/0/leave-or-remain-eu-referendum-results-and-live-maps/

http://www.telegraph.co.uk/news/2016/06/24/david-cameron-announces-his-resignation---full-statement/ http://www.telegraph.co.uk/news/2016/06/26/i-cannot-stress-too-much-that-britain-is-part-of-europe--and-alw/

http://www.bbc.com/news/uk-politics-32810887

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