top of page

Entrevista com Conor Foley sobre a eleição geral do Reino Unido

Com as eleições gerais no Reino Unido se aproximando, é interessante buscar uma abordagem especializada. Para isso, foi realizada uma entrevista com Conor Foley*.

A seguir, trechos das principais questões analisadas por Foley:

Tories vs Labour

“O Reino Unido é uma monarquia constitucional com o governo regido pelo primeiro-ministro. O povo vota em membros individuais do parlamento e o partido que tem o maior número de lugares é convidado a formar um governo. O sistema de votação não é proporcional e, portanto, os partidos geralmente ganham a maioria dos lugares com menos da metade do voto nas zonas eleitorais. O Partido Conservador (em inglês: Conservative Party) dominou a política britânica durante a maior parte do século passado e é o maior partido político na Inglaterra. O apoio do Partido Trabalhista (em inglês: Labour Party) está concentrado nas áreas tradicionais da classe trabalhadora nas grandes cidades e costumava dominar a Escócia e o País de Gales. É também o partido no qual a maioria dos imigrantes vota porque o Conservador tem uma história de racismo e usa o preconceito para fins políticos.


Em 1997, o Partido Trabalhista liderado por Tony Blair terminou 18 anos de governo conservador com uma vitória esmagadora, alcançando muitos eleitores anteriormente conservadores, que ficaram desiludidos com a reputação, de sordidez e corrupção, do partido. Blair foi reeleito em 2001 e 2005 (com maiorias reduzidas) e seu governo promulgou muitas reformas importantes – incluindo um acordo de paz na Irlanda do Norte. No entanto, seu apoio à invasão do Iraque foi controverso e afastou muitos eleitores trabalhistas tradicionais. Após Blair deixar o cargo, o Partido Trabalhista perdeu as eleições de 2010 e dirigiu-se para a esquerda com um novo líder. Os Conservadores formaram um governo de coalizão com os liberais e, em 2015, ganharam uma maioria geral.


Em resposta, os membros do partido trabalhista avançaram ainda mais para a esquerda, elegendo Jeremy Corbyn como seu líder, mesmo que sua falta de apoio, nos parlamentares do Partido Trabalhista, fosse quase absoluta. Os conservadores prometeram realizar um referendo sobre a continuação da adesão da Grã-Bretanha à União Europeia (UE), o que fizeram em junho de 2016. Apesar das fortes advertências, de todos os principais líderes do partido, de que deixar a UE causaria graves problemas econômicos, a Grã-Bretanha votou pelo Brexit após uma campanha que focou em parar a imigração. O primeiro-ministro conservador, David Cameron, fez campanha pela permanência na UE. Renunciou à sua posição e foi substituído por Theresa May, que anunciou que lideraria o país para o Brexit. Jeremy Corbyn recebeu a moção de não confiança pelo Partido Trabalhista Parlamentar – depois de ter sido visto como um líder de campanha ineficaz contra o Brexit –, mas ele foi reeleito pela maioria esmagadora do partido. O Partido Trabalhista perdeu apoio no país e as Pesquisas de Opinião indicam que conservadores estão 20 pontos à frente. Theresa May decidiu capitalizar sobre isso, chamando uma eleição rápida, que todos previam que ganharia confortavelmente”.


Corbyn vs May


“No entanto, os Trabalhistas reduziram consideravelmente a diferença nas pesquisas de opinião durante a campanha eleitoral. May tem travado uma campanha desastrosa e negativa – com o objetivo principal de atacar Corbyn, suas alegadas faltas de patriotismo e de vontade de usar armas nucleares e seu apoio anterior ao diálogo com terroristas. Este último é uma acusação particularmente grave dado os ataques terroristas ocorridos em Londres e Manchester na última semana. Corbyn tem contra-atacado e está se colocando como o mais honesto e simpático. Muitas de suas políticas também são populares. Ainda parece provável que os conservadores vençam as eleições, mas algumas pesquisas apontam para a possibilidade de um "hung parliament" – onde nenhum partido obtém a maioria. A autoridade de May foi gravemente prejudicada pela campanha e, mesmo que seja reeleita, ela enfrentará negociações muito difíceis com a UE no Brexit.


Haverá forte pressão sobre Corbyn para deixar a liderança se o Trabalhista for mal. Alguns deputados trabalhistas podem até se separar e formar um partido à parte. Muito dependerá do resultado efetivo das eleições, que será anunciado na sexta-feira. Uma opção possível é que Corbyn poderia se afastar em benefício de um líder mais jovem – também da esquerda do partido, mas sem algumas das "bagagens" históricas que Corbyn carrega”.


O efeito Escócia


“As eleições e as negociações de Brexit também estão pressionando a existência do Reino Unido enquanto uma entidade constitucional, pela provável votação da Escócia por sua independência e possível retirada da Irlanda do Norte do Reino Unido.


Tradicionalmente, o Partido Trabalhista domina a política escocesa, mas começou a perder terreno para o Partido Nacional Escocês (SNP), enquanto Blair era primeiro-ministro. O SNP posicionou-se estrategicamente à esquerda dos trabalhistas e conseguiu o apoio de muitos dos seus apoiadores tradicionais. O Partido Nacional Escocês ganhou o controle sobre o parlamento escocês e realizou um referendo para a independência do país, em 2014. Embora essa votação não tenha vingado, houve uma significativa mudança de apoio para o SNP nas eleições gerais de 2015. Todos, menos um dos 50 deputados escoceses do Partido Trabalhista, perderam seus assentos. Além disso, a Escócia votou em peso contra o Brexit no referendo de 2016 e o SNP argumenta que a Escócia não deveria sair da UE quando o restante da Grã-Bretanha o faz; e sua Primeira-Ministra se comprometeu a realizar um segundo referendo assim que os termos do Brexit ficarem claros”.


O efeito Irlanda do Norte


“A Irlanda do Norte também votou em peso contra o Brexit. A fronteira da Irlanda do Norte foi deliberadamente desenhada, em 1921, para garantir que incluísse a quantidade máxima de território, ao mesmo tempo em que a população unionista/protestante fosse uma maioria política segura em relação à população nacionalista/católica. No entanto, as mudanças demográficas nos últimos anos reduziram consideravelmente essa diferença. Nas eleições para a assembleia, realizadas no ano passado, os dois lados votaram quase que uniformemente. O comparecimento dos unionistas às eleições do ano passado foi menor do que o normal e pode ser maior nas eleições desta semana – tendo em vista as questões constitucionais em jogo. No entanto, Sinn Fein (ex-ala política do IRA) tem uma boa chance de pegar alguns assentos extras. Se o Sinn Fein superasse o principal partido unionista seria extremamente significativo, pois desafiaria o atual status quo constitucional - ainda mais, se a Escócia votasse para deixar o Reino Unido”.


A conta a ser paga


“Existem muitas questões imponderáveis ​​nesse cenário. As pesquisas de opinião apontam resultados amplamente diferentes e foram desacreditadas nos últimos anos. Muito dependerá da forma como o novo mapa político se deliniará na sexta-feira. Além do mais, o Brexit está a menos de dois anos de distância, mas ninguém realmente sabe quais serão os termos finais do acordo. Se os conservadores perderem as eleições, é possível que um governo liderado pelo Partido Trabalhista possa reverter o processo (embora o Partido Trabalhista tenha apoiado tal desencadeamento após o resultado do referendo). Se os conservadores ganharem, terão que convencer um público britânico cético. Certamente, haverá compensações, se a Grã-Bretanha quiser continuar a ter acesso ao Mercado Único (ou, pelo menos, evitar uma guerra de tarifas mutuamente destrutiva). Provavelmente haverá uma grande conta a pagar pelo “divórcio” - alguns estimam que isso possa chegar a 100 bilhões de euros - e o Reino Unido pode ser obrigado a continuar a aceitar as regras e regulamentos da UE, bem como a autoridade do Tribunal Europeu em troca desse acesso. Os conservadores não prepararam o povo britânico para tais eventualidades e podem enfrentar uma forte crise para se defender.


Uma das razões pelas quais os conservadores convocaram a eleição atual foi para conseguir a grande maioria dos assentos e outros cinco anos no cargo público para conduzir as negociações do Brexit. Se a Primeira-ministra May surgir na sexta-feira, politicamente mais fraca do que antes, isso poderia ter grandes ramificações na política britânica e irlandesa nos próximos anos."


(Tradução: Elis Castanheira)


Interview: Conor Foley on the UK general election


Tories vs Labour


“The UK is a Constitutional Monarchy with a Prime Ministerial form of government. People vote for individual members of parliament and the party that has largest number of seats is invited to form a government. The voting system is not proportional and so parties often win a majority of seats with less than half the vote in the constituencies. The Conservatives have dominated British politics for most of the last Century and are the biggest political party in England. Labour´s support is concentrated in traditional working class areas in the big cities and it used to dominate Scotland and Wales. It is also the party that most immigrants vote for because the Conservatives have a history of racism and using prejudice for political ends.


In 1997 Labour led by Tony Blair ended 18 years of Conservative rule with a landslide victory, reaching out to many previous Conservative voters, who had become disillusioned with the party´s reputation for sleaze and corruption. Blair was re-elected in 2001 and 2005 (with reduced majorities) and his government enacted many important reforms - including a peace deal in Northern Ireland. His support for the invasion of Iraq was controversial, however, and he alienated many traditional Labour voters. After he stepped down from office Labour lost the 2010 election and moved to the left with a new leader. The Conservatives formed a coalition government with the Liberals and in 2015 they won an overall majority.


Labour party members responded by moving even further to the left, electing Jeremy Corbyn its leader, despite his almost complete lack of support in the Parliamentary Labour Party. The Conservatives had promised to hold a referendum on Britain´s continued membership of the European Union (EU), which they did in June 2016. Despite strong warnings from all the main party leaders that leaving the EU would cause huge economic disruption Britain voted for Brexit after a campaign that focussed strongly on stopping further immigration. The Conservative Prime Minister, David Cameron, had campaigned to remain in the EU. He resigned his position and was replaced by Theresa May who announced that she would lead the country to Brexit. Jeremy Corbyn was no-confidenced by the Parliamentary Labour Party - after he was seen as having led an ineffective campaign against Brexit - but he was overwhelmingly re-elected by the Party membership. Labour´s support collapsed in the country and Opinion Polls showed the Conservatives 20 points ahead. Theresa May decided to capitalise on this be calling a snap election, which everyone predicted she would win comfortably.”


Corbyn vs May


“Labour has, however, considerably narrowed the gap in the Opinion Polls during the election campaign. May has fought a disastrous and negative campaign – mainly focussed on attacking Corbyn and his alleged lack of patriotism, his unwillingness to use nuclear weapons and his previous support for dialogue with terrorists. The latter is a particularly serious charge given the terrorist attacks that have taken place in London and Manchester in the last week. Corbyn has fought back hard and is coming across as more honest and likeable. Many of his policies are also popular. It still seems likely that the Conservatives will win the election, but some polls point to the possibility of a ´hung parliament´ - with no party having a majority. May´s authority has been badly damaged by the campaign and even if she is re-elected she will face very difficult negotiations with the EU on Brexit.


There will be strong pressure on Corbyn to quit as leader if Labour does badly. Some Labour MPs may even split away and form a separate party. Much will depend on the actual election result, which will be announced on Friday. One possible option is that Corby could step aside for a younger leader - drawn from the left of the party, but without some of the historical ´baggage´ that Corbyn carries.”


The Scotland effect


“The election and the Brexit negotiations are also putting a lot of pressure on the on the existence of the UK as a constitutional entity, with a strong possibility that Scotland may vote for independence and Northern Ireland could also conceivably leave the UK.


Labour traditionally dominated Scottish politics, but began to lose ground to the Scottish National Party (SNP) while Blair was Prime Minister. The SNP pitched themselves as to the left of Labour and picked up support from many of its traditional supporters. They won control of the Scottish parliament and held a referendum on independence in 2014. Although this vote was lost, there was a huge swing to the SNP in the 2015 general election. All but one of Labour´s 50 Scottish MPs lost their seats. Scotland also voted heavily against Brexit in the 2016 referendum and the SNP now argue that Scotland should not be ´dragged out of the EU´ when the rest of Britain leaves and its First Minister has pledged to hold a second referendum once the terms of the Brexit deal become clear.”


The Northern Ireland effect


"Northern Ireland also voted heavily against Brexit. The border of Northern Ireland was deliberately drawn, in 1921, to ensure that it included the maximum amount of territory while giving the Unionist/Protestant population a secure political majority over the Nationalist/Catholic population. However, demographic changes in recent years have narrowed that gap considerably. In the Assembly elections held last year the two sides polled almost evenly. Unionist turn-out in last year´s election was lower than usual and more may now vote this week - given the constitutional issues at stake. However, Sinn Fein (the former political wing of the IRA) have a good chance of picking up a couple of extra seats. If Sinn Fein were to outpoll the main Unionist party that would be hugely significant as it would challenge the current constitutional status quo - even more so if Scotland were to vote to leave the UK.”


The bill to be paid


“There are many imponderables in the above scenario. Opinion polls point to widely different results and have been discredited in recent years. Much will depend on the shape of the new political map on Friday. Brexit is also now less than two years away, but no one really knows what the ultimate terms of the deal will be. If the Conservatives lose the election, it is possible that a Labour-led government could reverse the process (although Labour voted to support triggering it after the referendum result). If the Conservatives win they will then have to sell the ultimate deal to a sceptical British public. There will certainly have to be trade-offs if Britain wants continuing access to the Single Market (or at least to avoid a mutually destructive tariff war). There will probably be a big ´divorce´ bill – with some estimating that this could be as high as 100 billion Euros – and Britain may be required to continue to accept EU rules and regulations, as well as the authority of the European Court in return for this access. The Conservatives have not prepared the British people for such eventualities and could face a strong back-lash.


One of the reasons why the Conservative called the current election was to give them a big majority of seats and another five years in office to see them through the Brexit negotiations. If Prime Minister May emerges on Friday, politically weaker than she was beforehand, this could have huge ramifications in British and Irish politics in the next few years.”



* Conor Foley é doutorando em Filosofia, Direito Internacional e Estudos Jurídicos. Professor convidado da PUC Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor convidado da Faculdade do Direito Universidade de Sheffield Hallam. Pesquisador da Universidade de Essex. Painel de Peritos do Departamento de Criminologia da Universidade de Leicester. Colaborador ocasional do The Guardian.

Por Trás do Blog
Leitura Recomendada
Procurar por Tags
Nenhum tag.
Siga "Clipping Democrático"
  • Facebook Basic Black
bottom of page